Este texto é tão estúpido!...

Em Portugal, já quase nada é português… canta-se pouco em português (o que eu entendo, que esta língua é mais difícil de versejar com jeito que qualquer outra), já pouco português se escreve (bjs p kiduxos kandam a ler ist) … e daqui a pouco, falar a língua mãe, tá quieto…
Os estrangeirismos estão a assolar Portugal de uma maneira mais devastadora que o terramoto de 1755. Em Portugal, faz-se carjacking, jogging, toca-se accordeón e usa-se aftershave…
Eu, no outro dia, dei comigo a descrever o meu dia com estrangeirismos… era mais ou menos assim…

“A primeira coisa que faço quando acordo é ver o meu mail… mas hoje, o laptop cracou e eu não consegui fazer download de ficheiros importantes… Algum hacker me fodeu a motherboard… o melhor é fazer um backup. Demorei demais e acabei por me atrasar. Vesti uns jeans, uma t-shirt e um anorak bordeaux e saí a correr.
Meti-me dentro do carro e lá fui eu… mesmo a chegar ao parking, distraí-me a sintonizar a rádio, porque naquela manhã só estava a dar boysbands, e bati com a parte da frente do capot num jipe de um senhor. Fui buscar os documentos ao tablier e sai para falar com ele. Ainda bem, que o senhor era um gentlemen e até me perguntou:
- A menina faz o quê?
- Sou freelancer – respondi eu.
Ele acabou por me dizer que tinha um franchising de import-export e depois do meu forcing e com o meu savoir-faire acordámos pagar a despesa fifty-fifty. Fiquei com um feeling que o dia já não ia correr bem…
Fui ver se o cachet do último trabalho já estava disponível… entrei na Câmara Municipal e dirigi-me ao ghichet para perguntar sobre assunto. Afinal, o cachet não estava disponível e eu fiquei preocupada porque estava sem budget para a próxima produção e o meu plafond já estava a acabar…
Acabei por não almoçar e fui directamente para um casting que tinha marcado… a minha sorte é que tinham lá um serviço de catering… pronto, era só batatas fritas barbecue e folhados de bacon, mas deu para o gasto. No casting perguntaram-me o meu background e eu mostrei a minha performance… no final, disseram-me que eu tinha um handicap, que era não ter tido aulas de ballet, e isso era necessário visto o espectáculo ser muito avant-garde. Eu achei aquela desculpa um bocado naif e telefonei ao meu manager a contar-lhe tudo.
Já era seis da tarde quando me lembrei que tinha o jantar de anos da minha prima. Passei, então, no shopping para comprar um souvenir. Queria comprar-lhe um i-pod que tinha visto num outdoor, mas como não havia em stock a cor standard acabei por lhe dar dois bilhetes de cinema noir para a matinée de Domingo.
Nisto, já estava quase na hora marcada para o jantar. Fui a correr para o restaurante, achei que me ia atrasar, mas não, cheguei no timing perfeito… fui até ao toilette para me arranjar… pus batôn, blush, eye-liner e estava pronta… cheguei à sala e… meu Deus… era só teenagers…e ainda por cima o menu era um prato que eu odeio… bifinhos com champignon. Mas porque é que esta tipa não fez o jantar num buffet, self-service? … Não comi quase nada, mas no final vinguei-me no cheesecake. Já estava desesperada e telefonei ao meu namorado para ele inventar uma desculpa e me tirar dali… merda, está no voice mail… e eu já a imaginar-me na minha cama king-size, a fazer zapping até encontrar uma qualquer sitcom…
Depois do jantar fomos a um pub um bocado underground, e eu entretive-me a fala com o barman… simpático… disse-me que trabalhava ali em part-time… fartei-me de beber Pepsi para ver se não adormecia e no final da noite nem sei como é que não morri com uma overdose de cafeína… eh, pá, aquilo já estava a ficar bué hard-core… fui para casa!
Cheguei a casa e, qual dejá-vu, dou com o meu namorado em collants a dançar com os videoclips da MTV.”


Vá lá… depois disto tudo é impossível acabar com uma punch line…