sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A Salvação...

Mesmo agora, aproximaram-se da minha porta duas senhoras, até bastante simpáticas (penso que menos simpática fui eu), que queriam dar-me a formula através da qual eu poderia obter a salvação… ora, eu, como pessoa pecadora até à semana que vem, não posso nunca acreditar em tal coisa como a salvação… a única coisa que espero é que, se um dia estiver a fazer um cruzeiro tipo Titanic e o desfecho for o mesmo, me apareçam no meio do Atlântico duas senhoras, a nadar só com um braço, tal Camões, e no braço suspenso no ar uma revista da Sentinela… que me dêem uma bíblia do tamanho da porta onde a outra se deitou e, claro, um apito… eis o tipo de salvação que um dia eu irei agradecer…
Os meus “ídolos para sempre”, Monty Phyton, tinham uma visão muito mais real de Deus… e na qual eu acredito muito mais…o Deus chateado com todos nós, porque baixamos a cabeça e nunca o questionamos… e que diz coisas do género: “Que raio de mania a vossa de se ajoelharem quando eu apareço”… portanto se eu morrer e for para o inferno, vou com certeza encontrar-me lá com o Chapman, o Clease, o Idle, o Gilliam e o Jones, e eu não consigo imaginar uma eternidade mais divertida…
Não quero pensar na existência, ou não, de Deus, (como disse, estou longe de ser boa pessoa e pensar no castigo que vem depois só me faria sofrer por antecipação) mas não posso acreditar que alguém ache normal que um tipo vá para o meio do monte matar um filho porque Deus lhe pediu… se Abraão, fosse realmente bom pai e boa pessoa tinha mandado Deus às urtigas e preferia arder no inferno a sacrificar um filho… ora, esta história é tomada como exemplo de virtude para todos os cristãos e eu, como condenada, não acho normal… Então qual é a diferença entre este senhor e o Charles Manson? O Manson é que não se lembrou de dizer que foi Deus que o iluminou… e se calhar até se safava de boa, pois no tribunal não seria difícil de provar que ele seguia os ensinamentos cristãos, formou ou não formou uma “família”? Na verdade, Deus apareceu a Abraão, estava este já a prestes a cometer o homicídio em primeiro grau, e disse-lhe que não era preciso matar Isaac, porque o sacrifício era apenas uma prova da sua fé, e ele tinha provado ser um seu seguidor fiel… vá lá, na Bíblia não há cena mais “Phytiana” que esta! …
Outra história que não entendo, na Bíblia é a de Adão e Eva. Todos os acreditam nestes livros acham que eles existiram mesmo e tiveram sete filhos… então, existem duas teorias… eles foram expulsos do paraíso e foram viver com os povos bárbaros… E eu, provavelmente com alguma estupidez, lembro-me de perguntar: mas então, se eles foram os primeiros, de onde surgiram os povos bárbaros? (banda sonora de vento) E se não foram viver com os povos bárbaros, quer dizer que a única maneira de os sete filhos terem outros tantos filhos, era conceberem… com… a mãe??? Arrrgggg!!!! Portanto, logo nas primeiras dez paginas da Bíblia temos um problema universal, que andamos a evitar há centenas de anos… ora, a Humanidade ou foi concebida em pecado, o incesto (de alguma forma a consanguinidade até explicaria a estupidez a que chegámos), ou então, sim senhor, não nascemos em pecado, mas também Adão e Eva não foram os primeiros a andar cá em cima do planeta azul. Isso faz do livro mais vendido do mundo um pequeno mentiroso de um quilo e meio…
Portanto, estas senhoras (eu acredito que até sejam boas pessoas) nunca se questionaram sobre o real significado do mundo, da Bíblia ou da vida… e uma pergunta como esta iria sobreaquecer o motor e acabava por queimar a junta da cabeça... (metáforas com mecânica? desculpem o texto já vai longo e já me começam a faltar ideias…)
Em resumo, eu acho que estas coisas só se passam porque pessoas ideologicamente cegas não conseguem entender que não foi Deus que escreveu a Bíblia, nas sim, homens… E que questionar o sagrado livro, não é questionar a Deus em si, mas sim ao que é escrito sobre ele… porque se a Bíblia faz um retrato de Deus como alguém a temer, temer a sua ira, temer o dia em que se está perante ele, em que se prestará contas… então se calhar Deus também não é grande flor que se cheire… e eu até poderia chamar-lhe fascista (isto pode dar-me um processo, não pode?) …
Não quero questionar a existência de Deus ou não, mas questiono sim, a ideia que se tem da sua natureza castigadora… e nesse caso… posso dar-me ao direito de questionar o seu trabalho… E, sobretudo, pensar que ser escolhido por ele para ser “salvo”, é só um esquema que a cabeça usa para nos tornarmos nós num qualquer semi-Deus… foi exactamente o que Adão e Eva fizeram… mas nós fazemos sem maça…até porque as maças estão caras… pois… desde que mudámos para o Euro não nos podemos dar a estes luxos! …

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